sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Amanhece fresco e o corpo, ligeiramente entorpecido por ter dormido em esteira em vez de colchão, parece encontrar uma vibração precisa e natural ao entrar nele o ar leve, o cheiro a plantas, o som dos pássaros. Apesar de viver numa cidade muito verde, sempre que chego ao campo apercebo-me do tanto que perdemos ao desvincular-nos dos ritmos da Natureza.

Levanto-me sem esforço e aproximo-me da janela aberta de par em par para o dia que começa a surgir. Os cardos enormes que fazem de cerca ao terreno são ainda silhuetas num céu que clareia devagar e depressa ao mesmo tempo. Viro-me e, depois de quatro cuidadosos passos, alcanço a chaleira, que encho com um pedido mental de silêncio – como se alguma vida a animasse. Quero fazer o mínimo de ruído possível. Nenhum dos dois corpos se mexe no chão da pequena sala e faço por não despertar as duas almas que lhes correpondem. É ou não sagrada a solidão de um dia que começa?

Ao voltar a apoiar-me no parapeito da janela, já as cadelas me olham do lado de fora, esse olhar redondo que só os cães e as crianças sabem expressar. Chegam também elas em silêncio e abanam as caudas. Começou o dia, anunciam. E, à sua maneira, sorriem.

1 comentário:

  1. Aqui o silêncio da Natureza foi substituído pelo ruído do Homem.
    Mas a solidão do acordar e o sorriso do cão, reconheço:-)
    Bom voltar a ler os teus escritos com cheiro, ruído, paladar, cor...enchem os sentidos e fazem sentido o que é uma união fantástica!
    Beijinhos

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